quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cidade de sonhos e de luar

Por entre colinas ao vento
Surge uma cidade esquecida
Perante o nosso tormento
Na hora da despedida

De canudo na mão e saudade no peito
Chego ao fim da encruzilhada
As lágrimas neste quadro imperfeito
Recordam a lembrança apagada.

E sob a tua noite já tão longa
Entreguei a alguém este meu coração
Entre palavras, caricias e melhodias
Alimentando esta nova paixão.

Com o Tejo embalo o meu ser
E a minha vida no teu vagar
Em ti resido e me entrego
Santarém, cidade de sonhos e de luar.

Para os palcos tu me levaste
E em teu nome, tanto cantei
De boémia a estudante modesta
De criança à mulher que me tornei

De capa rasgada e copo na mão
A ti eu brindarei
Ó cidade do meu coração
Entre muralhas sempre te amarei

Adeus eu não te direi
Mesmo que em mim resida a saudade
E por ti jamais chorarei
Causadora da minha liberdade

sábado, 1 de maio de 2010

Porque...

Porque os outros se mascaram mas tu nao


Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que nao tem perdao

Porque os outros têm medo mas tu nao.



Porque os outros sao os tu'mulos caiados

Onde germina calada a podridao.

Porque os outros se calam mas tu nao.



Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dao sempre dividendo.

Porque os outros sao ha'beis mas tu nao.



Porque os outros vao 'a sombra dos abrigos

E tu vais de maos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu nao.





Sophia de Mello Breyner Andresen